quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

sobre o XV EPEL durante o XXXIII ENEL......

[!por ora, sem título!]

[Florianópolis - UFSC - XXXIII Encontro Nacional de Estudantes de Letras]

– Vamos lá, ele está sozinho.
– Vai dar certo?
– Só vamos ter essa chance. Ele não pode escapar.

Um a um, eles foram chegando e se arrumando. “Está muito fácil”, um deles pensou. “Você e você”, outro disse, “fiquem perto daquela porta. Você e você”, apontou para outros dois, “esperem do lado de fora para pará-lo caso ele saia”. Estava quieto demais, fácil demais, não estava certo. Ele não facilitaria daquele jeito em momento algum. Por que ainda não havia saído dali? Os dois rapazes fizeram acenos de cabeça para as duas moças: havia chego o momento e cada dupla foi de um lado. A forma que ele baixou os olhos enquanto tomava o café preto fez a ex-namorada perceber...
– Pois é, mano – Chico disse –, obrigado por deixar a gente na mão em Marabá – sentou-se na cadeira ao lado.
– É – Lucas, já sentado, continuou – falou tanto que ia e, no fim, sumiu. O Camelô foi muito feliz em dizer que você viria a Floripa – Érica e Paloma apareceram pelos flancos e puxaram cadeiras. Todos olhavam para ele. Que tomou mais uma dose, amaldiçoando a lanchonete, devido o fumo ser proibido.
– Vocês respiram muito alto – ele disse com as mãos às pontas dos braços da cadeira –, são desorganizados e indiscretos – era impassível. Não me admira que não tenham me pego a mais tempo. Mas digam – estendeu a mão como se mandasse tudo às favas –, perguntem o que vieram perguntar, o que os aflige desde fevereiro, que eu sei que ‘tá fazendo vocês me procurarem desde fevereiro e... – Os quatro enrubesceram de raiva verdadeira – “... e nos ter feito correr atrás dos próprios rabos desde fevereiro quando você ‘tava embaixo dos nossos narizes”, Érica disse, decepcionada. Por seu olhar, era óbvio que havia um sorriso formado embaixo da barba. Lucas fez um sinal a interrompendo.
– O que aconteceu para não ires ao EPEL, Rafael? – Paloma perguntou.
Silêncio.
Ele suspirou.
Eles não desviaram os olhares dele.
– Eu poderia dizer que eu não quis – começou – mas não foi bem isso, sabem? Não, não foi isso – abria e fechava as mãos. – Não é fácil explicar.
– Tem ideia do que aconteceu lá, mano? – Lucas perguntou.
– Absoluta – ele disse. – Fui muito bem informado de praticamente tudo que aconteceu lá. Vocês inclusive – sorriu – me disseram muita coisa sobre as cagadas. Fabíola, o tal Artur Ribeiro, Kaius (esse é o nome, certo?) e Marcelo não são os melhores cofres do mundo. Fora que o povo do CAL também contou as histórias até cansarmos de ouvir.
– Mas... Como? – Érica, Paloma e Chico se perguntaram. 
– Simples. Como a própria Érica disse, eu disse que não estava a vista dos olhos de vocês, não que não estava por perto. Ajuda muito não falar muito quando você não quer ser visto – funcionou na maioria das vezes e...
– Tu ainda não respondestes nossa pergunta – Érica disse. Ele abriu as mãos e as fechou firmemente, além da inspiração.
– Lembram porque fez tanto sol na manhã da viagem ao EPEL? – perguntou, recebendo olhares de negativa – Porque havia chovido quase a madrugada inteira da segunda pra terça. – “E daí?”, podia ser lido nos olhos deles – Começou como uma mensagem no celular, “abre o portão”. Quem seria tamanhas quatro da manhã? Lembra, Lucas, ‘távamos falando sobre o isopor pra levar a carne e o frango e não havíamos entrado em consenso e tu dissestes “tudo bem, o Chico e eu pensamos em algo de manhã, não te bate”? – Lucas confirmou mas querendo saber como aquilo estava relacionado; dose de café. – Ela usava uma capa de chuva preta. Estava toda de preto, pra dizer a verdade, seus cabelos eram negros que nem a capa e a roupa, totalmente ao contrário da pele muito branca e dos grandes olhos azuis redondos e brilhantes. Até o batom era preto. Abri o portão para que entrasse e ela tirou a capa. Nem esperou entrar pra perguntar se eu já tinha terminado de preparar tudo pra viagem – olhou para o café, quase no fim. Fez sinal par uma atendente pedindo mais um duplo. “‘Tá certo”, Chico disse, “e essa mulher disse pra tu não ires pra Marabá, certo?” O barbudo sorriu. – Exato. Vamos lá pra fora pr’eu poder fumar. Podemos? – Os quatro se entreolharam. Lucas levantou, os três foram em seguida. Érica apontou para ele, que a cortou – Prometo não fugir. Vocês precisam ouvir isso – o café chegara e pediu para que fosse posto na conta.
Minutos depois, outro lugar, ainda no campus. “Certo”, Chico disse. “Ok”, ele disse, “agora as coisas começam a ficar loucas”, estava empolgado, já com o cigarro aceso, cumprimentava as pessoas que vinham falar com ele. “Já no meu quarto”, prosseguiu, “ela me deu um pen drive, dizendo ‘veja o que tem aqui’. Ok. Pus no PC e vi as pastas ‘Fotos’, ‘Videos’ e ‘Depoimentos’. O próprio nome do pen drive já era ‘EPEL 2012’”. Érica perguntara o que havia nas pastas, tendo como resposta “relatos em imagem, áudio e vídeo do que teria sido o encontro caso ele tivesse ido”. “E você quer que acreditemos nisso, certo?”, Lucas perguntou. Silêncio. Os quatro estavam irados com aquela ofensa às suas inteligências, não acreditavam que ele acreditava que eles fossem tolos a ponto de acreditar nisso. Até que... Ele colocou o cigarro na boca e, com a mão já livre, procurou algo no bolso da bermuda próximo ao joelho, retirando triunfante um
“Um pen drive?”, os quatro ficaram mais irritados e mais a nível crescente quando ele pediu por um computador, que não demoraram para conseguir. Alguém devia ter tirado fotos deles quando enfim viram os conteúdos do dispositivo de armazenamento de dados, ouvindo e vendo a si mesmos falando do que ele aprontara enquanto bêbado e estando no estado que se encontrara no evento em questão, o porque (não justificável nem desculpável) de ter feito o que fizera. Desligaram e foram até ele, que já estava com outro café e outro cigarro, conversando com Tailson e a esposa deste, além de alguns outros, como Clederson, Isabelle, Patrik, Laura, Daniela e Raimundo. Tailson e ele eram os que riam mais alto, como se o evento nunca tivesse ocorrido ou, muito pior!, como se nunca tivessem tido a obrigação de participarem do mesmo. Mais do que o frio, aquilo os angustiava. Aquilo estava tão além das compreensões deles que realmente os angustiava. Paloma foi até ele.
– POR QUÊ? – ela questionou levantando em muito a voz. – Você sabia que ia acontecer e podia evitar. Podia ser tudo diferente hoje! Me diz! POR QUÊ? – As nuvens estavam cada vez mais acinzentadas, do cinza ao escurecer. A mesma pergunta estava nos olhos dos outros três que acompanhavam a moça. Muitos já haviam parado ao redor deles devido à cena – e ela estava se segurando para não chorar. Olhos negros em congruência com olhos castanhos e primeiros baldes de chuva. Ele, com os braços abertos de “porra, e agora?”, olhou para os amigos ao seu redor, eles – com exceção de Tailson – não entenderam. Acendeu mais um cigarro. “Não pergunte pra mim”, disse. E, com a mão ond’ele estava aceso, como se apontasse um revolver, apontou para trás da moça.
– Pergunte a eles.
Ela se virou. Os quatro haviam olhado para trás. Não podiam acreditar. Os traços envelhecidos, as rugas, os olhares cansados, tudo indicava o óbvio que recusar-se-iam a acreditar até que não houvesse mais porque não acreditar...
Francisco. Érica. Eurico Lucas. Paloma.

Eram eles.



:: 04 de dezembro de 2013 ::
:: sobre o XV Encontro Paraense de Estudantes de Letras e o XXXIII Encontro Nacional de Estudantes de Letras ::

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

BARCA DE NOÉ: AGORA ROLA!


E eis que a dita Barca de Noé VAI ROLAR MESMO!

Respondendo as perguntas principais:
QUANDO? Domingo, 16 de dezembro de 2012!
ONDE? Conjunto Guajará 1! travessa WE 54-A! casa 1314!
 (clique na imagem acima para melhor visualização, porra!)
HORAS? A partir das 14 horas!
COMO? Maguari - Iguatemi, Maguari - Doca, Maguari - São Braz (favor NÃO CONFUNDIR com CONJUNTO Maguari), Guajará São-Braz, Guajará Ver-O-Peso, qualquer micro-ônibus que vá pela estrada do Maguari e siga direto pela estrada do Guajará!
COLETA? A partir de r$10 a r$ 15

LEVEM CIGARROS E ISQUEIROS!


MAPA JOINHA!
Legendas do mapa
01 - este quarteiro todo é uma escola; na esquina é uma parada de ônibus que fica DE FRENTE pra rua onde vai rolar a festa. ESTA é a parada de ônibus pra quem vai de Maguari: Iguatemi; Maguari: Doca e Maguari: São Braz vai ter que descer;
02 - na R. Sn. 21, entre a R. 55 e a R 54, tem uma parada de ônibus pra quem vai de Guajará Ver-O-Peso ou Guajará: São Braz; basta atravessar o quarteirão-escola que já está lá na rua da casa da Barca de Noé (ou então desce na parada e liga pra um dos organizadores que vamos pegar na parada do buzão);
03 - ESTA é a rua da casa onde vai ser a putada;
04 - ESTE é o LADO da rua onde a casa fica (o lado direito da rua); é uma de muro branco ao lado de uma com lajotas azuis e brancas, com portão de ferro, na direção de quem vai descendo a rua! caso tenhas mais dúvidas, basta perguntar onde mora o Marcelo mesmo que num tem erro!

Contato e Infos
Kaius Almeida https://www.facebook.com/kaiusalmeida 8761-3896 e 8270-5935 
Marcelo Farias https://www.facebook.com/marcelo.pontes.92 8801-8797
Rafael Garou https://www.facebook.com/cavaleirode.eletrons 9606-9034

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A BARCA DE NOÉ

A BARCA DE NOÉ

A vida tem sido um suplício, o estresse nos consome e as obrigações nos exasperam, mais uma porcaria de ano acabou e pelo menos isso merece uma festa de “vá com Deus, Alá, Ganesh, Shiva, Hórus, Zeus, Zordon, Buda e a lista segue...”.
Em breve, vamos nos reunir pra comemorar o fim desses doze malditos meses, e, quem sabe, se tivermos sorte, do mundo. Vamos escutar um pouco de música boa (não vou discutir o conceito de bom, provavelmente vai rolar uma democracia - excluídos forró, pagode, funk ou sertanojo), conversar, rir e beber até o cu fazer bico.
 
A primeira edição da Barca de Noé, a Liga Eterna, já tem lugar, data e horário definidos.
Eu Marcelo Pontes e Cavaleiro de Elétrons vamos entrar em detalhes particularmente, é uma festa privada, só pros brothars mesmo. Este é um comunicado para que estejam avisados, vai rolar ainda essa semana.
Apareçam, curtimos vocês :)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

HOMENAGEM (ATRASADA) AOS ONZE ANOS SEM NIRVANA [texto de 2005]

ONDE NÃO EXISTE CARNAVAL

“Eu tenho um coração.”
– Renato Russo, na letra de “Aloha”, presente no álbum A Tempestade ou o Livro dos Dias, de 1996

Às vezes, na vida de todas as pessoas, nós apenas sentimos, sem saber explicar estes sentimentos em relação ao mundo e às pessoas ao nosso redor, e, inclusive e acima de tudo, a nós mesmos e como encaramos tudo o que vivemos.
Todavia, algumas pessoas têm o maravilhoso Dom de expressar estes sentimentos em forma de pintura, dança, poesia, música, etc. e algumas poucas realmente conseguem expressá-los em poesia e em música, e, através das mesmas, juntas e de uma só vez, conseguem abrir e tocar os nossos corações de tal maneira que nunca mais esqueceremos.
Ele conseguiu de tal forma fazer isso com os adolescentes do início da última década do século passado – e ainda consegue fazer com muitos jovens de hoje, apesar dos Linkins Parks e Evanescences da vida – que ainda permanece e para sempre estará como um ícone que se mantém intocado como seus imortais antecessores, que – ao contrário dele – partiram sem dizer adeus, e – como ele – de forma trágica e estúpida. Aparentemente e para sempre sem uma razão aceitável.
Mito. Herói. Amigo. Rebelde. Louco. Contestador. Adorável. Amoroso. Delicado. Determinado. Muitos adjetivos pelos quais pode-se defini-lo. Tão igual e tão diferente de nós. Porém, através de seus atos e de suas obras, não permitia que nos sentíssemos (e que nos sintamos) sozinhos. Tal qual em canções de outras bandas, ao ler-se algumas de suas letras, é possível concluir “eu não estou sozinho! Eu não sou o único/a única a me sentir assim no mundo!”, de tal forma que era (e é) impossível não se sentir aliviado, e, ao mesmo tempo, entorpecido. Não é todo dia que uma banda consegue fazer uso com suas canções. É realmente impossível não ter se sentido pelo menos uma vez na vida como ele se sentiu e descreveu em suas letras, possuidoras de incomum capacidade de consolar, emocionar, enlouquecer, acordar, assustar, destruir, querer gritar bem alto – tudo isso junto e muito, muito mais!!! Bem, seria muito lugar-comum, demasiadamente simples confirmar isso; entretanto como já dito: “é mais fácil falar do que sentir.” E como é...
Ele servirá de guia para futuras gerações de jovens solitários, inconformados, incompreendidos e desorientados, com um mundo todo contra eles. Pois eles terão o mais importante: as músicas e as letras, e – o mais importantes – a essência e os sentimentos presentes nas mesmas para orientá-los. Assim como ele – e como todos nós – terão seus corações e deverão ouvi-los, quando a razão e a lógica não forem suficientes para se resolver os problemas que a vida traz e nos joga na cara.
O nome dele é Kurt Donald Cobain, ou simplesmente Kurt Cobain, que, junto a Krist Novoselic e Dave Grohl – separadamente, já que juntos, formavam o NIRVANA – marcaram seus nomes na história da música, e, com suas canções, as vidas de muitos e muitas jovens, para o bem ou para o mal. E esses muitos e essas muitas fazem absoluta e concreta questão de não pensar o que seria caso o trio vindo de Seattle não tivesse aparecido sob os holofotes o mesmo surgido, já que suas vidas podem ser divididas em “antes do Nirvana” e “depois do Nirvana”. Impensável.
Afinal, tudo tem um fim. Inclusive as “explicações” de como Kurt, Krist e David conseguiram mudar os cursos dos rios chamados música e mentalidade juvenil, porém, escrita com todo o coração, após o assistir de um tributo aos mesmos, que foi um dos maiores “power trios”, tal qual os Três Patetas, o Cream, o Jimi Hendrix and the Experienced, Krisiun, Engenheiros do Hawaii até 1993, entre muitos outros.
Mas, eu não sei. Eu, sinceramente e honestamente, espero de todo o meu coração detonado por causa de cigarros e de (adoráveis e amáveis e destruidores e assassinas) bebidas alcóolicas (desculpem, mas eu AMO beber, entretanto nem sempre o que se ama é bom e faz bem – meus neurônios mortos e minha coordenação motora afetada que o digam) que este texto possa fazer sentido para alguém; um sentido honesto, verdadeiro e sincero e tudo o mais que possa tocar um coração, assim como as canções do Nirvana tocaram o meu, já que ou humano e, como tal, sinto raiva, angústia, medo, fraqueza, desespero, afeto, respeito, orgulho, tristeza e todos os sentimentos que somente nós, as mais fantásticas e estúpidas criações que Deus pôs na Terra, podem desfrutar e aprender com elas.
Kurt, Krist, Dave: Nirvana, obrigado por tudo!
Kurt, onde você estiver, espero que tenha conhecimento desta (“humilde”? “modesta”?) homenagem de um fã, que tentou, ao menos, traduzir em palavras, o que ele e muitos fãs por todo o mundo sentem por você e por sua obra.

Atenciosamente,
Rafael Alexandrino Malafaia
abril de 2005

sábado, 22 de setembro de 2012

[sem título]

Alina já está angustiada. Vão dar onze horas e o filho ainda não apareceu. Já ligou para todos os números que pôde e ainda não conseguiu notícias dele. Nem seus amigos sabem onde está. E pior é esconder o medo frente aos convidados, que já perguntaram todos por ele. Nem ela, nem o marido nem o casal de filhos sabe dizer onde está. O celular dele só dá fora de área.

Depois de caminhar praticamente dezenas de quilômetros, finalmente chega à sua casa. Procura a chave pelos bolsos antes de então lembrar-se que está presa a um cordão em seu peito. O retira e enfim, em um instante, o portão está aberto. De lá até a porta é um momento. Quando vai pegar na maçaneta, percebe que a porta está aberta. Só faz empurrá-la. Entra. Está urrando de fome, segue direto para a cozinha no mesmo tempo em que retira o capuz e solta os longos cabelos negros como petróleo, na altura dos pulsos, que chegam a quase cobrir totalmente a grande mochila que está em suas costas. Ele não a vê sentada no sofá. Ele está com tanta fome, tão cansado que, mesmo se ela passasse ao seu lado, não iria percebê-la. Ele passa tão rápido que ela quase não nota. Ela levanta a cabeça.
– Posso saber onde o senhor estava a essa hora, rapazinho? – ela começa.
Mas ele nem a ouve. Está amplamente concentrado em sua fome, seguindo para a cozinha, indo direto para a geladeira. A abre, enfiando a cara dentro dela, procurando afoitamente alguma coisa, encontrando somente refrigerante e uma carne preparada por ele no dia anterior. Seguindo para o forno, encontra algo parecido a uma lasanha e o resto de uma torta salgada. Coloca tudo em cima da mesa antes de procurar alguma vasilha grande para poder colocar tudo aquilo. Ela ainda não percebeu que ele não a ouviu, curva a cabeça para o lado para tentar vê-lo, em vão. Balança a cabeça antes de finalmente levantar-se e ir atrás dele. O vê procurando algo no armário. Ainda está com a mochila nas costas.
– Eu te fiz uma pergunta e exijo uma resposta – ela diz. Ele não ouve, “onde ‘tá aquele maldito pacote de batata frita que escondi aqui?”, ele diz, antes de encontrar. – Estou falando com você, mocinho. – novamente o silêncio. Ela vai até ele e o pega pelo braço. – Augusto Radagásio Kalemberg-Malafaia, eu estou falando com você. – ela o balança, antes dele finalmente percebê-la.
– Ei, mãe – ele diz, antes de tirar os cabelos que cobriam os ouvidos e retirar os fones que lá estavam. – Eu num te ouvi. Algum problema?
– Onde você estava até essa hora? – ela pergunta, raivosa e preocupada.
– Eu vim andando lá do Centro de Convenções – ele começa a responder. – Vocês não disseram que iam ‘tá lá e pra eu ir lá com vocês? Pois é, eu fui e dei de cara com o centro fechado e, como num tinha um tostão pra pegar ônibus, vim andando. – se solta do braço da mãe e começa a colocar a comida na vasilha.
– Você... veio... andando?!? – Ela está realmente admirada. – Lá do Centro de Convenções? Por quê você não ligou pra gente ir te buscar? E... Falando em ligar, cadê seu celular?!? – ela pergunta. Ele olha sério para ela, de modo altamente reprovador. Não responde. Acaba de colocar tudo o que vai comer, vai procurar um talher. – O quê foi? – ela questiona. – Onde está o celular que teu pai te deu? – Após colocar a colher dentro da gororoba, ele pega vasilha e a garrafa de refrigerante. Ela o pára com a mão. Ele continua com o mesmo olhar. – Por quê essa cara?
– A senhora sabe muito bem que eu não uso essas coisas – ele começa, mais do que sério. – E eu não uso justamente porque eu não gosto. Eu já não gosto de usar computador, quanto mais essas coisinhas que fazem ligações, que mais parecem rastreadores. – ele se esquiva dela e finalmente vai para a sala.
– Então porque você não ligou aqui pra casa? – ela pergunta, seguindo-o, já está gritando.
– Pra quê? – ele retruca sem virar-se para ela. – Eu nunca sei quando ‘cês ‘tão em casa! Eu passo dias, semanas sem ver vocês e como é que eu vou saber quando ‘cês ‘tão em casa?!? A Ilíada disse que todos vocês estariam lá no Centro, por isso que fui pra lá depois do alemão! – sentou-se no sofá e procurou o controle da TV.
Ela postou-se frente à TV. “Você fez isso só pra ver a gente?!?”, ela questiona. Não acredita no que ouviu. Ele já está irritado. Expira longamente. “Olha”, começa, “mãe... por favor... não deixa meu dia pior do que já foi, tá legal?”?, ele pede. Ela tira o controle da mão dele. “Não deu pra gente ir”, ela diz. A raiva dele aumenta. “Ah, claro, que nem na apresentação da minha banda na Feira da Cultura desse ano e da Bienal do Livro?”, ele começa. Ela azeda.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O ÚLTIMO ANOITECER CHUVOSO

“Não me importo com a fama de bebum acabado
Não importa o tempo que ainda falta pro fim
Soube que sai mais de uma vez carregado, e, mesmo com a chuva, eu dormi no jardim
Eu já estou acostumado a ser mal tratado por mim”

– Matanza, “O Bebum Acabado”, Odiosa Natureza Humana, 2011

NEM SE ELE QUISESSE, poderia ver o que estava acontecendo. A ladeira onde estava deitado estava quase coberta de água e ele não acordaria a tempo até ser tarde demais – isso se acordasse. O céu estava tão de um violeta tão intenso e aterrador quanto nunca antes e nunca antes havia chovido daquele jeito. Só vestia uma bermuda preta, os bolsos rasos estavam vazios e os cigarros estavam completamente destruídos, o isqueiro inutilizado. A pele branca estava sendo coberta pela água suja de barro e poeira. Onde seus calcanhares? Onde uma de suas mãos – já que a outra pousava sobre o estômago – e ouvidos? O córrego já formado estava prestes a cobrir sua tez já avermelhada e sua boca coberta pela barba escura como a noite que estava prestes a terminar, mas cuja manhã seguinte seria acinzentada. A garrafa que trouxera, apesar de seca, já havia se perdido pela correnteza. Sem nenhum sonhar e somente a escuridão.
D’outro lado do estado, seus pais rezavam, imaginando como estava e o que fazia, sua irmã estava em outro extremo do país, trabalhando por uma das muitas multinacionais terceirizadas do governo. A mãe e o pai rezavam de mãos dadas ao pé da cama pelo casal. Não somente eles, mas outros de tantas filhas e filhos que não sabiam como os seus também estavam naquele momento. A viagem fora de quase dois dias, sendo relativamente rápida pela reforma recente das rodovias. Não é porque receberam notícias assim que se chegaram é que vão ficar facilmente calmos, afinal, desde quando o mundo é mundo, pais são pais, mães são mães, e crias são crias. Alguns mais preocupados do que outros. Umas muito mais arteiras do que outras. Cidades e vidas não param. E assim como o dia dá lugar à noite, o velho, dá, de alguma forma, lugar ao novo.

A quase três mil pés de altura, eles decidiram iniciar o ataque, não podiam permitir que pousassem o avião, pois o ataque à Floresta Sagrada seria inevitável. Já sabiam que estavam sendo aguardados e que, juntos, não poderiam ser detidos por nada – muito menos pelos melhores deles também reunidos. Se haviam Ovelhas lá, junto a eles, que fosse. Eram números. A existência e a persistência de uma das últimas Florestas Sagradas era muito mais importante do que a deles, já que seus grandes números eram uma das causas de existirem tão poucas delas. Através de olhares e sinais de mãos, decidiram como e quando atacar para que tivessem o melhor rendimento possível. Não podiam permitir que eles saíssem da aeronave. Não importasse o preço.

O dia tinha tudo para ser perfeito, se o final não desse tão errado. Quando começou a chover, ele já estava lá, sentado, prestes a perder todos os sentidos. Não conseguia parar de dizer o nome dela. Os cabelos castanhos claros dela refletiam a luz de forma a causar inveja em loiras. Ela já estava com tanta raiva e tão decepcionada com suas palavras e ações que não quis nem o olhar em olhos quanto em todo – e ainda faltavam mais quatro dias para o fim do evento. Aqueles olhos tão amendoados quanto as mechas sabiam esconder raiva e frustração; ela sabia como sorrir de modo tal cândido e cativante mesmo sendo implodida internamente por uma ogiva de centenas de megatons. E ele estava tão a par disso que nem mais lhe dirigira a palavra, preferindo sumir do lugar, mesmo desconhecendo que ela – vá entender as mulheres! – o queria embaixo de seu nariz e em seu campo de visão, para ter certeza de que, mesmo enraivecida, ainda tinha certeza de que ele estava a salvo de si mesmo.
Dizem que as desgraças são covardes, pois só vêm acompanhadas. Como não convém à narrativa dizer quais se sucederam com o casal em decorrência de outras, cabe aqui dizer que ele não soube agir com a maturidade devida ao encarar as mesmas. Ele ficou sentado de costas para onde todos estavam, pensando em muito e em como fazer – sem sucesso algum, devido ao efeito do tanto de álcool que já consumira em tão pouco tempo. A maioria já nem se importava com seu estado, pois, ninguém sabia explicar convincentemente como, sempre conseguia voltar vivo das piores “bad trips”, todavia com seqüelas nada invejáveis e acreditaram que, daquela vez, não seria diferente. Algumas garotas o olhavam pelo portão. Quando começou a chover, enfim passaram a se preocupar com ele, mas o resto disse que não seria diferente, que ele dormiria bêbado na chuva, mas que voltaria inteiro no dia seguinte, como se nada houvesse acontecido.

A batalha havia sido intensa. Iniciada com gritos de guerra dentro da aeronave, alguns dos inimigos haviam sido destruídos antes de notar o que acontecera, mas não sem baixas do lado atacante. Humanos no meio do combate entre adversários desde antes destes saírem das cavernas? Baixas de guerra e nada mais do que estorvo e comida para animais de estimação. Se alguns deviam morrer para que famílias e locais milenares pudessem perdurar, que morressem aos montes! O interior dos três andares da nave já havia sido banhado em sangue de inimigos e inocentes. Não era o bom combate que ambos os lados gostavam de travar, mas, enquanto uns lutavam por sobrevivência até chegar ao local de verdadeira peleja, outros lutavam para que estes não o fizessem. Era impossível que lideres organizassem suas tropas em tal campo de batalha, era cada um por si e todos por todos, mesmo que os metamorfos fossem muito mais organizados em batalha do que os sanguessugas e apesar dos primeiros não lutarem juntos de tal modo há mais gerações do que até mesmo ábacos podem contar.

Neste momento, como já dito, nem se ele quisesse, poderia ver e sentir quando foi retirado do canal quase coberto de água e esgoto, então quase cobrindo seu rosto. Não podia sentir o calor ao seu redor quando estava nos grandes braços redondos da bombeira que o encontrara. Carros e caminhões por todos os lados. O fogo estava prestes a ser controlado devido à ajuda da chuva até então torrencial, a maior registrada nas últimas décadas. Estava amanhecendo, mas sabiam que o sol ainda iria a demorar a surgir dentre as nuvens; isto é, se o fizesse ainda aquele dia. Era um milagre alguém ter sido encontrado – e ainda respirando! Todos queriam vê-lo, muitos já com lágrimas nos olhos. Não carregava identificação alguma, todavia, pelos traços e notável falta de cuidados, concluíram ser mais um dos muitos mendigos que estava perambulando pela cidade pelos últimos tempos. Mas estava vivo, e isso era importante.
Não se sabia como e muito menos o porquê, um avião comercial de três andares havia caído no meio de uma grande cidade do interior do estado, destruindo não somente um quarteirão, mas inclusive, além de um bairro onde moravam de cerca de trinta famílias, uma escola de ensino fundamental, onde, segundo fontes confiáveis, cerca de trezentos estudantes universitários estavam alojados para o Encontro Estadual de Estudantes de Letras do ano em questão. Todos mortos com o impacto da nave no solo. Levaria muito tempo para tanto os moradores e graduandos quanto os passageiros e tripulação serem identificados. Eram tantos que não se sabia nem a quem se priorizar. Muitos dos corpos estavam completamente destruídos e seria preciso que muito fosse feito para que fossem de fato reconhecidos. Exames, investigações, entrevistas, muito. A notícia veio como um choque para o mundo inteiro. Teóricos da conspiração se reuniram como nunca antes, enchendo os fóruns da internet e bares perdidos em becos. Cultos ecumênicos e específicos foram celebrados em diversos países. Por muito, isso tornou-se o assunto principal de muitos jornais dignos de nota ou mesmo sensacionalistas. Muitas perguntas, poucas respostas. Informações divulgadas pela metade, quando eram. Ninguém sabia de nada e, em pouco tempo, até autoridades foram proibidas de falar sobre.

A missão fora um sucesso. Os inimigos que completariam a força de ataque foram interceptados, mesmo com o heróico sacrifício dos que se dispuseram a subir a bordo. Os heróis seriam lembrados devidamente após a batalha seguinte, pois os sanguessugas não deixariam de lutar por algumas baixas ainda que muito importantes, estavam determinados a vencer e a destruir aquela Floresta Sagrada a qualquer custo. Os metamorfos sabiam que a próxima peleja também não seria nada fácil para eles – mas nada, desde sua origem, nunca fora fácil. E eles não podiam querer que, naquela tarde ainda tempestuosa, o que consideravam um forte sinal de vitória vindoura, fosse diferente.



:: conto de Rafael Alexandrino Malafaia ::
:: 05 de março de 2012 ::

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ENEL 2012: As Mil Mães Adolescentes Mortas

Luzes apagadas e enfim o show mais esperado do evento porque singuém sabia o que esperar a primeira apresentação dos paraenses do As Mil Mães Adolescentes Mortas, divulgando o primeiro álbum, Invasão Nórdica ao Show de Punk Rock Hardcore. E então o sliêncio sepulcral antes das notas iniciais de Guiados pela Constelação das Presas do Lobo antes da enfim porradaria de Javali, emendada com Cavalice Extrema e fechando com Martelo que te Partam, quando Minhoca, o vocalista, apresentou a banda e agradeceu a oportunidade de serem convidados a tocar em um evento do porte do ENEL, ressaltando que nunca estiveram tão deslocados. E eis que o pessoal ficou indeciso entre entrar na roda ou cantar junto em Não Estamos Preparados, emendada com a “panterosa” Valquíria (Massacre Freyr), abrindo para a ultra-rápida Chuva de Lanças. Aqui percebe-se o entrosamento da banda que, mesmo não tocando o álbum na ordem certa, ainda faz soar bastante destruidor ao vivo. “Vão se foder, cristãos”, berrou Garou, guitarrista, “porque esta se chama Paraíso Perdido na Casa do Caralho!”, promovendo bateção de cabeça geral, com inúmeros metal horns em riste. O “momento piada” foi em Créu Velocidade 666 e Os Vagabundos Só Querem Surfar (cuja letra foi inspirada no filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola), marcadas pela bateria tocada na velocidade da luz por Trilha-de-Sangue, que transformou Muralha de Escudos em uma martelada sonora maior do que já é. Apesar de ser basicamente cantada e acompanhada pela bateria, foi impossível não se emocionar com o hino Harokin/Einherjar, guiada pelo baixo de Pëixë e dedicada ao pai de um amigo da banda, hospitalizado. Para fechar o set antes do bis, Novo Mundo (a lá Bad Religion) e, por fim, a “ode" ao Pará, Soberania, que, segundo a banda, é a resposta deles à Belém, Pará, Brasil, dos seus conterrâneos do Mosaico de Ravena. No bis, o pessoal ainda tinha gás para a roda em Bleeding Heart Disease, do NOFX; para banguear em Creeping Death, do Metallica, e, por fim, cantar em uníssono We’ll Meet Again, clássico de Vera Lynn regravado até por Johnny Cash, que certamente foi o ponto máximo dos shows do evento. Que venha o próximo ENEL e, nele, mais uma apresentação d’As Mil Mães Adolescentes Mortas!

SETLIST
Guiados pela Constelação das Presas do Lobo
Javali
Cavalice Extrema
Martelo que te Partam
Valquíria (Massacre Freyr)
Chuva de Lanças
Paraíso Perdido na Casa do Caralho
Créu Velocidade 666
Os Vagabundos Só Querem Surfar
Muralha de Escudos
Harokin/Einherjar
Novo Mundo
Soberania

BIS
Bleeding Heart Disease (NOFX)
Creeping Death (Metallica)
We’ll Meet Again (Vera Lynn)