Alina já está angustiada. Vão dar onze horas e o filho ainda não apareceu. Já ligou para todos os números que pôde e ainda não conseguiu notícias dele. Nem seus amigos sabem onde está. E pior é esconder o medo frente aos convidados, que já perguntaram todos por ele. Nem ela, nem o marido nem o casal de filhos sabe dizer onde está. O celular dele só dá fora de área.
Depois de caminhar praticamente dezenas de quilômetros, finalmente chega à sua casa. Procura a chave pelos bolsos antes de então lembrar-se que está presa a um cordão em seu peito. O retira e enfim, em um instante, o portão está aberto. De lá até a porta é um momento. Quando vai pegar na maçaneta, percebe que a porta está aberta. Só faz empurrá-la. Entra. Está urrando de fome, segue direto para a cozinha no mesmo tempo em que retira o capuz e solta os longos cabelos negros como petróleo, na altura dos pulsos, que chegam a quase cobrir totalmente a grande mochila que está em suas costas. Ele não a vê sentada no sofá. Ele está com tanta fome, tão cansado que, mesmo se ela passasse ao seu lado, não iria percebê-la. Ele passa tão rápido que ela quase não nota. Ela levanta a cabeça.
– Posso saber onde o senhor estava a essa hora, rapazinho? – ela começa.
Mas ele nem a ouve. Está amplamente concentrado em sua fome, seguindo para a cozinha, indo direto para a geladeira. A abre, enfiando a cara dentro dela, procurando afoitamente alguma coisa, encontrando somente refrigerante e uma carne preparada por ele no dia anterior. Seguindo para o forno, encontra algo parecido a uma lasanha e o resto de uma torta salgada. Coloca tudo em cima da mesa antes de procurar alguma vasilha grande para poder colocar tudo aquilo. Ela ainda não percebeu que ele não a ouviu, curva a cabeça para o lado para tentar vê-lo, em vão. Balança a cabeça antes de finalmente levantar-se e ir atrás dele. O vê procurando algo no armário. Ainda está com a mochila nas costas.
– Eu te fiz uma pergunta e exijo uma resposta – ela diz. Ele não ouve, “onde ‘tá aquele maldito pacote de batata frita que escondi aqui?”, ele diz, antes de encontrar. – Estou falando com você, mocinho. – novamente o silêncio. Ela vai até ele e o pega pelo braço. – Augusto Radagásio Kalemberg-Malafaia, eu estou falando com você. – ela o balança, antes dele finalmente percebê-la.
– Ei, mãe – ele diz, antes de tirar os cabelos que cobriam os ouvidos e retirar os fones que lá estavam. – Eu num te ouvi. Algum problema?
– Onde você estava até essa hora? – ela pergunta, raivosa e preocupada.
– Eu vim andando lá do Centro de Convenções – ele começa a responder. – Vocês não disseram que iam ‘tá lá e pra eu ir lá com vocês? Pois é, eu fui e dei de cara com o centro fechado e, como num tinha um tostão pra pegar ônibus, vim andando. – se solta do braço da mãe e começa a colocar a comida na vasilha.
– Você... veio... andando?!? – Ela está realmente admirada. – Lá do Centro de Convenções? Por quê você não ligou pra gente ir te buscar? E... Falando em ligar, cadê seu celular?!? – ela pergunta. Ele olha sério para ela, de modo altamente reprovador. Não responde. Acaba de colocar tudo o que vai comer, vai procurar um talher. – O quê foi? – ela questiona. – Onde está o celular que teu pai te deu? – Após colocar a colher dentro da gororoba, ele pega vasilha e a garrafa de refrigerante. Ela o pára com a mão. Ele continua com o mesmo olhar. – Por quê essa cara?
– A senhora sabe muito bem que eu não uso essas coisas – ele começa, mais do que sério. – E eu não uso justamente porque eu não gosto. Eu já não gosto de usar computador, quanto mais essas coisinhas que fazem ligações, que mais parecem rastreadores. – ele se esquiva dela e finalmente vai para a sala.
– Então porque você não ligou aqui pra casa? – ela pergunta, seguindo-o, já está gritando.
– Pra quê? – ele retruca sem virar-se para ela. – Eu nunca sei quando ‘cês ‘tão em casa! Eu passo dias, semanas sem ver vocês e como é que eu vou saber quando ‘cês ‘tão em casa?!? A Ilíada disse que todos vocês estariam lá no Centro, por isso que fui pra lá depois do alemão! – sentou-se no sofá e procurou o controle da TV.
Ela postou-se frente à TV. “Você fez isso só pra ver a gente?!?”, ela questiona. Não acredita no que ouviu. Ele já está irritado. Expira longamente. “Olha”, começa, “mãe... por favor... não deixa meu dia pior do que já foi, tá legal?”?, ele pede. Ela tira o controle da mão dele. “Não deu pra gente ir”, ela diz. A raiva dele aumenta. “Ah, claro, que nem na apresentação da minha banda na Feira da Cultura desse ano e da Bienal do Livro?”, ele começa. Ela azeda.
Depois de caminhar praticamente dezenas de quilômetros, finalmente chega à sua casa. Procura a chave pelos bolsos antes de então lembrar-se que está presa a um cordão em seu peito. O retira e enfim, em um instante, o portão está aberto. De lá até a porta é um momento. Quando vai pegar na maçaneta, percebe que a porta está aberta. Só faz empurrá-la. Entra. Está urrando de fome, segue direto para a cozinha no mesmo tempo em que retira o capuz e solta os longos cabelos negros como petróleo, na altura dos pulsos, que chegam a quase cobrir totalmente a grande mochila que está em suas costas. Ele não a vê sentada no sofá. Ele está com tanta fome, tão cansado que, mesmo se ela passasse ao seu lado, não iria percebê-la. Ele passa tão rápido que ela quase não nota. Ela levanta a cabeça.
– Posso saber onde o senhor estava a essa hora, rapazinho? – ela começa.
Mas ele nem a ouve. Está amplamente concentrado em sua fome, seguindo para a cozinha, indo direto para a geladeira. A abre, enfiando a cara dentro dela, procurando afoitamente alguma coisa, encontrando somente refrigerante e uma carne preparada por ele no dia anterior. Seguindo para o forno, encontra algo parecido a uma lasanha e o resto de uma torta salgada. Coloca tudo em cima da mesa antes de procurar alguma vasilha grande para poder colocar tudo aquilo. Ela ainda não percebeu que ele não a ouviu, curva a cabeça para o lado para tentar vê-lo, em vão. Balança a cabeça antes de finalmente levantar-se e ir atrás dele. O vê procurando algo no armário. Ainda está com a mochila nas costas.
– Eu te fiz uma pergunta e exijo uma resposta – ela diz. Ele não ouve, “onde ‘tá aquele maldito pacote de batata frita que escondi aqui?”, ele diz, antes de encontrar. – Estou falando com você, mocinho. – novamente o silêncio. Ela vai até ele e o pega pelo braço. – Augusto Radagásio Kalemberg-Malafaia, eu estou falando com você. – ela o balança, antes dele finalmente percebê-la.
– Ei, mãe – ele diz, antes de tirar os cabelos que cobriam os ouvidos e retirar os fones que lá estavam. – Eu num te ouvi. Algum problema?
– Onde você estava até essa hora? – ela pergunta, raivosa e preocupada.
– Eu vim andando lá do Centro de Convenções – ele começa a responder. – Vocês não disseram que iam ‘tá lá e pra eu ir lá com vocês? Pois é, eu fui e dei de cara com o centro fechado e, como num tinha um tostão pra pegar ônibus, vim andando. – se solta do braço da mãe e começa a colocar a comida na vasilha.
– Você... veio... andando?!? – Ela está realmente admirada. – Lá do Centro de Convenções? Por quê você não ligou pra gente ir te buscar? E... Falando em ligar, cadê seu celular?!? – ela pergunta. Ele olha sério para ela, de modo altamente reprovador. Não responde. Acaba de colocar tudo o que vai comer, vai procurar um talher. – O quê foi? – ela questiona. – Onde está o celular que teu pai te deu? – Após colocar a colher dentro da gororoba, ele pega vasilha e a garrafa de refrigerante. Ela o pára com a mão. Ele continua com o mesmo olhar. – Por quê essa cara?
– A senhora sabe muito bem que eu não uso essas coisas – ele começa, mais do que sério. – E eu não uso justamente porque eu não gosto. Eu já não gosto de usar computador, quanto mais essas coisinhas que fazem ligações, que mais parecem rastreadores. – ele se esquiva dela e finalmente vai para a sala.
– Então porque você não ligou aqui pra casa? – ela pergunta, seguindo-o, já está gritando.
– Pra quê? – ele retruca sem virar-se para ela. – Eu nunca sei quando ‘cês ‘tão em casa! Eu passo dias, semanas sem ver vocês e como é que eu vou saber quando ‘cês ‘tão em casa?!? A Ilíada disse que todos vocês estariam lá no Centro, por isso que fui pra lá depois do alemão! – sentou-se no sofá e procurou o controle da TV.
Ela postou-se frente à TV. “Você fez isso só pra ver a gente?!?”, ela questiona. Não acredita no que ouviu. Ele já está irritado. Expira longamente. “Olha”, começa, “mãe... por favor... não deixa meu dia pior do que já foi, tá legal?”?, ele pede. Ela tira o controle da mão dele. “Não deu pra gente ir”, ela diz. A raiva dele aumenta. “Ah, claro, que nem na apresentação da minha banda na Feira da Cultura desse ano e da Bienal do Livro?”, ele começa. Ela azeda.
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